Exposição coletiva “Meu corpo: território de disputa” abre o calendário 2023 da galeria reúne uma seleção de 27 artistas mulheres com curadoria de Galciani Neves. “Viver em um corpo reconhecido como um corpo de mulher é saber que este corpo pode ser apalpado, violado, avalizado subitamente. Viver em um corpo reconhecido como um corpo de mulher é viver um corpo-escudo, um corpo-flama, apto ao embate. Estamos em estado de combate e defesa” afirma Galciani Neves, ao definir as inquietações que deram origem a seu projeto curatorial.
Enquanto as estatísticas se revelam assombrosas pela crueza dos fatos – o Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que uma mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas, no país – Neves apresenta um conjunto diverso de estratégias poéticas desenvolvidas pelas artistas, que encaram esse cenário a partir da crítica, da fabulação, da autoafirmação e do reconhecimento de ser mulher no Brasil. Propondo uma corporeidade centrada no desejo, na espiritualidade e na ancestralidade, as artistas fazem do corpo um espaço de luta, resistência, força e gozo.
A mostra se organiza em três eixos principais, intitulados: A liberdade também é um combate, Fabular uma anatomia experiencial, e Corpo-floresta em desbunde. Na primeira sessão figura Quando todos calam #2 (2009), trabalho icônico de Berna Reale, na qual a performer se deita, nua, coberta por vísceras, sobre uma mesa a céu aberto no Mercado Ver o Peso, em Belém. Reale, que também atua como perita criminal, conhece a materialidade da violência em toda sua brutalidade. Outras formas de violência visíveis, como aquela instituída pelas representações da história da arte, aparecem no trabalho de Anna Bella Geiger, assim como a dos padrões de beleza, criticados no sedutor, mas perigoso, vestido de navalhas de Nazareth Pacheco.