Giorgio Armani: O Visionário que Redefiniu a Elegância e Construiu um Império Global
Giorgio Armani, nascido em Piacenza, no norte da Itália, em 11 de julho de 1934, foi um estilista e empresário que deixou uma marca indelével na "Saiba mais sobre" moda mundial. Falecido em Milão, em 4 de setembro de 2025, aos 91 anos, Armani é reconhecido por seu trabalho que transcendeu a moda para criar um estilo de vida que “sussurra” elegância e personalidade. Seu império, avaliado em mais de US$ 12,1 bilhões pela Forbes em setembro de 2025, com um faturamento de € 2,3 bilhões em 2024, consolidou-o como um dos homens mais ricos da Itália e uma lenda na indústria da moda.
Infância e Primeiras Influências (1934-1957)
A infância de Giorgio Armani foi marcada por adversidades, incluindo a devastação e a privação da Segunda Guerra Mundial, período em que ele sofreu queimaduras graves devido à explosão de um projétil de artilharia não detonado. Seu pai, Ugo Armani, era um contador que trabalhava para a Federação Fascista, e Giorgio mais tarde comentaria que, na época, quase todos na Itália eram fascistas, o que proporcionava um senso de pertencimento.
Uma das maiores inspirações de Armani foi sua mãe, Maria Raimondi, que demonstrou grande criatividade ao confeccionar roupas para os filhos com materiais como paraquedas antigos e uniformes militares. Essa capacidade de fazer mais com menos e a valorização de uma estética sóbria e discreta influenciaram profundamente seu senso de moda.
Apesar de ter um avô paterno que fabricava perucas para o teatro da cidade, Giorgio sempre demonstrou uma sensibilidade estética precoce, desaprovando a artificialidade das perucas, o que prenunciou seu futuro estilo. Inicialmente, ele aspirava à medicina, chegando a cursar três anos na Universidade de Milão. Após servir dois anos no exército, designado para o Hospital Militar de Verona, decidiu buscar uma carreira diferente, ingressando no mundo da moda.
O Início da Carreira na Moda (1957-1975)
Em 1957, Armani começou sua trajetória na moda como vitrinista e balconista na loja de departamentos La Rinascente, em Milão, um trabalho que hoje se assemelha ao visual merchandising. Ele foi responsável por introduzir as primeiras peças da inovadora empresa finlandesa Marimekko e, posteriormente, trabalhou como vendedor no departamento de moda masculina, adquirindo valiosa experiência em marketing.
Em meados da década de 1960, Armani passou a desenhar roupas masculinas para a empresa Nino Cerruti, um dos nomes mais influentes da alta-costura da época, onde aprimorou suas habilidades. Sua formação, portanto, não veio das salas de aula formais, mas da combinação de seu bom gosto inato e dos aprendizados práticos nas vitrines e no ateliê de Cerruti.
Um encontro crucial em sua vida aconteceu no final da década de 1960, quando conheceu Sergio Galeotti, um arquiteto que se tornaria seu parceiro pessoal e profissional. Em 1973, Galeotti o incentivou a abrir seu próprio escritório de design em Milão, dando início a um período de intensa colaboração. Durante esse tempo, Armani atuou como designer freelancer para diversas casas de moda, como Allegri, Bagutta, Hilton, Sicons, Gibò, Montedoro e Tendresse, consolidando seu estilo.
A Fundação do Império e as Inovações Revolucionárias (1975-2005)
Em 24 de julho de 1975, Giorgio Armani, ao lado de Sergio Galeotti, fundou a Giorgio Armani SpA em Milão, com um capital inicial de US$ 10 mil. Em outubro do mesmo ano, apresentou sua primeira coleção prêt-à-porter masculina para a primavera/"Saiba mais sobre" verão de 1976, seguida por uma linha feminina.
Armani revolucionou a moda da década de 1970 com suas silhuetas minimalistas e desconstruídas. Em vez dos ternos pesados, largos e estruturados da época, ele introduziu peças mais leves, feitas de linho ou jérsei de lã, em tons neutros como verde-oliva, cinza-claro e azul-ardósia, tornando-os tão confortáveis quanto jeans e camisetas. Seu estilo, que primava pelo minimalismo, rigor e sofisticação, era o oposto da exuberância de outras marcas. Ao desenhar para mulheres, ele incorporou muitos códigos do guarda-roupa masculino, criando roupas que impulsionaram a “revolução da mulher trabalhadora” na década de 1980.
Armani foi um pioneiro em reconhecer o potencial de marketing das celebridades e premiações. Em 1978, ele vestiu Diane Keaton para a 50ª edição do Oscar. No ano de 1980, sua marca alcançou fama mundial graças ao filme “Gigolô Americano”, onde Richard Gere usou um guarda-roupa inteiramente assinado por Armani, transformando o terno clássico em um símbolo de status e estilo e solidificando o nome do estilista em Hollywood. Mais tarde, ele assinaria figurinos para mais de duzentos filmes, incluindo “Os Intocáveis” (1987) para Kevin Costner, “O Lobo de Wall Street” (2013) para Leonardo DiCaprio, “Elysium” (2013) para Jodie Foster e “O Ano Mais Violento” (2014) para Jessica Chastain. Sua relação com o cinema se aprofundou tanto que, em 1983, ele inaugurou um ateliê em Los Angeles com o propósito exclusivo de vestir estrelas de Hollywood para o tapete vermelho. Em 1982, Armani foi o segundo estilista masculino a estampar a capa da revista Time.
Em 1991, lançou a AX Armani Exchange, focada em roupas casuais e jovens. Em 2001, Armani foi aclamado como o designer italiano de maior sucesso.
A Era da Expansão e do Estilo de Vida (2005-2025)
Em 2005, com 71 anos e 30 anos de carreira, Armani surpreendeu ao lançar sua linha de alta-costura, a Armani Privé, consolidando sua posição no topo da moda de alto "Saiba mais sobre" luxo. Sua visão se expandiu para além da moda, transformando a marca em um império global que incluía hotéis, restaurantes, chocolates, móveis, utensílios domésticos e até arranjos florais com a Armani Fiori.
A Giorgio Armani SpA firmou um contrato de licenciamento com a Emaar Properties PJSC em 2005 para desenvolver uma coleção global de hotéis e resorts de luxo. O primeiro Armani Hotel foi inaugurado no Burj Khalifa, em Dubai, em 2010, ocupando os 39 andares inferiores do arranha-céu e com Armani controlando o design de interiores e o estilo geral.
Seu envolvimento com o esporte foi notável: foi presidente do time de basquete Pallacanestro Olimpia Milano, torcedor do Inter de Milão, e desenhou ternos para a seleção inglesa de futebol, jogadores do Chelsea e as equipes olímpicas e paralímpicas italianas. Ele também criou a linha EA7, inspirada no futebolista Andriy Shevchenko. Recentemente, a marca se tornou fornecedora oficial da Scuderia Ferrari.
Armani também foi um inovador no uso da tecnologia. Em 2007, transmitiu sua coleção ao vivo pela internet, sendo o primeiro no mundo da alta-costura a fazê-lo. Ele foi o primeiro designer a proibir modelos com IMC inferior a 18 após a morte de uma modelo por anorexia.
A marca Armani consolidou uma presença global impressionante, com 60 boutiques Giorgio Armani, 11 Collezioni, 122 Emporio Armani, 94 A/X Armani Exchange, 1 Giorgio Armani Accessori e 13 lojas Armani Junior em 37 países até 2009. O grupo conta com 12 fábricas e mais de 2,7 mil boutiques em 60 países.
Vida Pessoal e Legado
Giorgio Armani era conhecido por sua natureza reservada, mas afirmou ter tido relacionamentos com homens e mulheres. A morte de seu parceiro de "Saiba mais sobre" negócios e pessoal, Sergio Galeotti, em 1985, devido a complicações relacionadas à AIDS, foi descrita por Armani como o maior fracasso de sua carreira. Ele creditou a Galeotti a capacidade de seguir adiante com seus negócios, e seu espírito permaneceu uma inspiração.
Armani era um entusiasta da navegação, passando grande parte de seu tempo em seu iate, o Maìn, batizado com o apelido de sua mãe. Ele era obcecado pelo controle e pela perfeição, supervisionando cada aspecto de sua marca. Considerava a moda um estilo de vida e praticava o “quiet luxury” (luxo discreto) muito antes de o termo se popularizar, preferindo a sofisticação sutil à ostentação.
Sua fortuna pessoal, de US$ 12,1 bilhões, incluía um vasto portfólio imobiliário, com vilas na Sicília e Forte dei Marmi, residências em Milão, Saint Moritz, Paris e Saint Tropez, além de obras de arte.
Armani não teve filhos, mas planejou a sucessão de seu império com rigor. Seus três sobrinhos, Silvana e Roberta (filhas de seu irmão Sergio), e Andrea Camerana (filho de sua irmã Rosanna), fazem parte do conselho de administração da Armani, juntamente com seu braço direito de longa data, Leo Dell’Orco, que comanda as linhas masculinas. A Fundação Armani, criada pelo estilista, terá um papel central em garantir o equilíbrio e a harmonia entre os herdeiros, impedindo que o grupo seja adquirido por terceiros ou desmembrado, com a premissa de que a listagem na bolsa de valores só será considerada cinco anos após sua adoção. O objetivo era uma transição “orgânica”, sem ruptura.
Giorgio Armani foi um estilista que, em suas próprias palavras, “lutou com o tempo”. Ele reconhecia o trabalho árduo como essencial para o sucesso, mas também lamentava ter dedicado muitas horas ao trabalho e pouco tempo a amigos e familiares.
Reconhecimento e Prêmios
Ao longo de sua carreira, Armani recebeu diversas honrarias, incluindo o Prêmio Neiman Marcus em 1979, o reconhecimento como Melhor Designer Internacional pelo Conselho de Designers de Moda da América (CFDA) em 1983, e o Prêmio pelo Conjunto da Obra em Moda Masculina do CFDA em 1987. Em 2014, foi laureado com o Prêmio Carreira Compasso d’Oro, e em 2021, foi nomeado Cavaleiro da Grã-Cruz da Ordem do Mérito da República Italiana.
Giorgio Armani faleceu preparando-se para o desfile de comemoração dos 50 anos de sua marca, deixando um legado não apenas de moda, mas de um estilo de vida, uma visão 360° sobre o negócio e um exemplo de como a elegância, a estratégia e o marketing podem construir um império duradouro