Como a forma de falar pode elevar ou sabotar mulheres na liderança

A entonação de uma mulher nunca foi apenas um detalhe. O mercado, a política e a mídia avaliam não só o que é dito, mas como é dito. Voz aguda demais? Soa infantil. Grave demais? Parece agressiva. Pausas longas? Insegurança. Fala acelerada? Ansiedade. Esse julgamento implacável molda carreiras e pode ser o fator invisível que separa uma profissional de uma posição de liderança.

“Existe um código não escrito sobre como uma mulher ‘deveria’ soar para ser levada a sério. O problema é que esse código foi criado para que poucas se encaixem, deixando muitas para trás. Mas, felizmente, comunicação é habilidade, e habilidade se constrói”, aponta Micarla Lins, especialista em oratória e comunicação para mulheres.

Segundo Micarla, pesquisas revelam que homens interrompem mais mulheres quando suas vozes são percebidas como hesitantes. No entanto, quando adotam uma tonalidade firme, são rotuladas como agressivas. “Um estudo da Universidade de Yale mostrou que líderes femininas que falam de forma assertiva, sem variação no tom, tendem a ser menos aceitas do que seus pares masculinos. O dilema é evidente: como equilibrar empatia e autoridade sem cair em armadilhas de percepção?”, alerta.

De acordo com a especialista, o segredo está no ajuste fino. Voz bem projetada, pausas estratégicas e dicção clara aumentam a credibilidade instantaneamente. “Não se trata de mudar quem você é, mas de potencializar sua mensagem. Pequenos ajustes na respiração, ritmo e volume criam impacto imediato”, reforça.

Abaixo, Micarla compartilha dicas práticas para desenvolver a melhor forma de falar:

Controle a respiração: antes de falar, inspire profundamente pelo nariz e expire lentamente pela boca. Isso acalma o ritmo e reduz a ansiedade.
Use pausas estratégicas: evite falar de maneira acelerada. Pausas no momento certo criam impacto e fazem sua mensagem ser mais bem absorvida.
Trabalhe a projeção vocal: grave sua própria voz e treine o volume. Falas muito baixas passam insegurança, enquanto um tom firme e natural impõe presença.
Articule bem as palavras: pratique a dicção lendo em voz alta, focando em pronunciar cada sílaba de forma clara e sem pressa.
Evite a entonação de dúvida: muitas mulheres terminam frases com um tom ascendente, o que pode soar como incerteza. Finalize suas sentenças com firmeza.
Treine a linguagem corporal: uma postura ereta e gestos alinhados à fala reforçam autoridade e transmitem confiança.

“O tom certo não impõe, mas conquista. Não domina, mas influencia. Mulheres que aprendem a usar a própria voz como ferramenta de poder transformam sua comunicação em um diferencial inquestionável. Falar com confiança não é sobre se encaixar em um molde, mas sobre fazer com que o mundo escute sem distorções”, finaliza Micarla Lins.