Nos últimos anos, impulsionado por influenciadores, youtubers e tendências importadas de países como Coreia do Sul e Estados Unidos, o cuidado com a pele se transformou em um verdadeiro fenômeno cultural. “O que antes era uma recomendação médica restrita a determinados diagnósticos hoje se converteu em uma prática cotidiana para milhões de pessoas. Mas o entusiasmo pela chamada rotina "Saiba mais sobre" skincare tem ultrapassado os limites do saudável. Ácidos aplicados no momento errado, excesso de produtos, uso de gadgets que podem lesionar a pele são alguns dos exemplos do uso indiscriminado e descoordenado de cosméticos e ativos dermatológicos sem acompanhamento profissional”, ressalta a dermatologista Dra. Sylvia Ypiranga, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de "Saiba mais sobre" Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP). “Recentemente, estudos têm mostrado um aumento significativo no número de pessoas com o diagnóstico de pele sensível. Uma das possíveis causas é justamente o uso precoce e exagerado de cosméticos, muitas vezes sem necessidade ou indicação adequada”, completa a dermatologista Dra. Paola Costa, membro da SBD-RESP.
A imprensa internacional começou a denominar esse fenômeno como “skincare selvagem”. Diferente da ideia de autocuidado consciente, o skincare selvagem é marcado por um excesso de produtos, sobreposição excessiva de ácidos, combinações sem respaldo científico e uma busca por resultados imediatos, frequentemente ancorada em promessas milagrosas da internet. “Ácidos como retinóico, glicólico, mandélico, salicílico, vitamina C em altas concentrações, niacinamida e peróxido de benzoíla são utilizados de forma simultânea, em peles que muitas vezes nem sequer apresentam indicação clínica para tais substâncias. O resultado é um aumento alarmante nos casos de "Saiba mais sobre" dermatite de contato, sensibilização cutânea, efeito rebote de oleosidade, hiperpigmentações pós-inflamatórias e até queimaduras químicas”, esclarece a Dra. Sylvia. Outra questão apontada pela médica Dra. Paola Costa é o uso de fitas adesivas no rosto para ‘esticar’ a pele. “Elas são usadas no rosto durante a noite, com a intenção de ‘esticar’ a pele e prevenir rugas, mas isso não tem comprovação científica de eficácia e pode, inclusive, causar danos. A pressão contínua pode levar a irritações, marcas temporárias devido à tração inadequada da pele. A melhor forma de prevenir rugas é apostar em cuidados consistentes, como hidratação adequada, uso diário de filtro solar e, quando indicado, tratamentos dermatológicos personalizados”, diz a Dra. Paola Costa.
A SBD-RESP enfatiza que a pele tem um pH naturalmente ácido, que varia entre 4,5 e 5,5, e é recoberta por uma barreira lipídica responsável por proteger contra agressões externas e perda de água. “Quando essa barreira é constantemente atacada por esfoliantes físicos e químicos, sabonetes abrasivos ou peelings caseiros mal orientados, há um desequilíbrio do microbioma cutâneo e da função imunológica local. Isso pode desencadear uma série de processos inflamatórios, agravando condições como rosácea, acne, eczema e até psoríase”, diz a Dra. Sylvia. “Mesmo que cremes reconstrutores e máscaras faciais não sejam irritantes por si só, o uso excessivo e principalmente sem necessidade pode causar desequilíbrios importantes na pele. Cada produto tem uma função específica e deve ser usado conforme a necessidade do momento. Por exemplo, cremes reconstrutores são formulados para restaurar a barreira cutânea, sendo indicados em situações como após procedimentos dermatológicos, uso de ácidos, ou em peles sensibilizadas por condições como dermatite ou ressecamento intenso. Quando usados diariamente em uma pele saudável, eles podem levar à sobrecarga de ativos e desequilíbrio da microbiota cutânea, o que paradoxalmente pode até aumentar a sensibilidade”, diz a Dra. Paola. “O mesmo vale para as máscaras faciais, que geralmente são concentradas em ativos hidratantes, calmantes ou esfoliantes, dependendo do tipo de máscara. Elas são pensadas para uso pontual, uma vez por semana ou até menos e não como parte de um ritual diário. O uso excessivo pode provocar aumento da oleosidade, dermatites, irritações, entre outros sintomas principalmente se for combinado com outros produtos sem o devido intervalo de tempo”, destaca a Dra. Paola Costa.
O grande problema está na ausência de individualização. “Nem toda pele tolera os mesmos ativos. O que é eficaz e seguro para uma pessoa pode ser desastroso para outra. Além disso, há uma falsa ideia de que os produtos ‘de farmácia’ ou os dermocosméticos são sempre inofensivos, o que não é verdade. Cosméticos com concentrações elevadas de ativos ácidos ou esfoliantes podem ter efeito similar ao de medicamentos, exigindo cautela e acompanhamento”, ressalta a Dra. Sylvia.
Outro risco é o uso de produtos manipulados sem receita. “Muitos pacientes solicitam fórmulas pela internet, a partir de posts virais, sem que um dermatologista tenha avaliado a real necessidade, o tipo de pele ou as interações possíveis. O uso de clareadores potentes, por exemplo, sem fotoproteção adequada, pode provocar manchas mais graves do que aquelas que se queria tratar”, diz a dermatologista.
A SBD-RESP destaca que, diante disso, é urgente resgatar a autoridade técnica do dermatologista no cuidado com a pele. “Só esse profissional está capacitado para avaliar a condição da pele em sua complexidade, incluindo fatores hormonais, imunológicos, emocionais e ambientais, e indicar uma rotina personalizada, com ativos eficazes, em concentrações seguras e com acompanhamento contínuo. A busca por uma pele saudável e bonita é legítima, mas não deve ser guiada por modismos digitais e nem por extremismos. A informação científica, aliada à orientação médica, ainda é o melhor filtro para proteger a "Saiba mais sobre" saúde da pele e evitar consequências difíceis de reverter”, finaliza a diretora da SBD-RESP.