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‘Eu gosto da feiura. Muito sol, amor e barquinho me enjoam’, diz Regina Braga

Por Rafael Filipe Ferreira

A atriz está em cartaz com a peça ‘São Paulo’, onde faz uma homenagem à cidade que adotou como sua

A atriz Regina Braga é mineira de nascença e paulista por escolha. Para homenagear a capital Paulista, a artista produz e atua na peça ‘São Paulo’, que está em cartaz no Teatro Itália Bandeirantes, depois de uma temporada de sucesso no Teatro Unimed.

Tudo começou após ela ler o livro ‘São Paulo, a capital da solidão’, de Roberto Pompeu de Toledo, onde descobriu fatos que desconhecia da cidade, como o fato de se falar mais tupi que português, por causa da alta presença de indígenas na região,  e também a inauguração da primeira faculdade de Direito do Brasil, feita por Dom Pedro II a pedido da Marquesa de Santos em 1827. “As pessoas tinham vergonha de São Paulo”, disse Regina.

A atriz tinha o desejo de morar no Rio de Janeiro, mas teve que viver em São Paulo. Hoje ela ama a cidade e diz que não consegue viver em outro lugar. “Eu vejo uma beleza nesta feiura. Muito sol, amor e barquinho me enjoam. Eu gosto de tristeza. Cada vez eu odeio mais a obrigação de alegria, felicidade e de sorrisos muito fáceis e soltos. Este convívio com a esquisitice da cidade me faz bem”, disse.

Confira a entrevista completa:

Como surgiu a ideia de realizar esta peça?

O início foi quando eu li o livro de Roberto Pompeu de Toledo chamado ‘São Paulo, a capital da solidão’. Eu já fiquei impressionada por este título, achei forte e, lendo o livro, eu fiquei impressionada com minha ignorância. Eu não tinha noção da história da cidade de São Paulo e como ela se desenvolveu dentro de um Brasil que já estava se desenvolvendo no litoral.  Aqui era um lugar perdido, isolado no meio da serra e que falava uma língua diferente.

Eu fui encontrando coisas interessantes e me surpreendi. Claro que muitas coisas interessantes ficaram de fora. Não dava para colocar tudo. Eu tive que selecionar. Eu selecionei as coisas que eu achei mais curiosas e fui entremeando com canções que contam a cidade e que são muito bem contadas.

Como é voltar a encenar este espetáculo após uma temporada de sucesso no Teatro Unimed?

Teve um pouquinho. Cada vez eu descubro alguma coisa nova. Eu fui em uma exposição sobre a revolução constitucionalista e já coloquei mais uma frase. Quanto mais a gente conhece, mais a gente vai querendo conhecer. Eu acho importante olhar para o nosso lugar, onde a gente vive. Conhecer o nosso passado. Eu acho importante botar os olhos na nossa própria história.

Quais as recordações que você tem de Minas? Um dos locais que você frequentava era Boa Esperança, né?

Eu frequentava. Eu tive uma tia, que foi das pessoas que eu mais gostei na vida. Marister Souza, que era casada com um médico de Boa Esperança. Eu passei minhas grandes férias da infância em Boa Esperança. Eu adoro lá. A terra do Lamartine Babo. Foi uma cidade muito importante para mim.

Eu nunca morei muito em Minas. Meu pai era paulista e conheceu minha mãe porque ele foi estudar agronomia em Lavras (MG). Se mudamos para o interior de São Paulo, Presidente Prudente, onde passei minha infância e adolescência.

Você nasceu em Belo Horizonte, mas escolheu São Paulo para ser sua cidade. O que a levou a tomar esta decisão?

Eu não escolhi. Se eu tivesse escolhido, eu teria ido para o Rio, porque eu adorava carnaval e samba e eu achava uma cidade muito bonita. Era muito chique e atraente. Eu sempre gostei de samba. Eu ficava sonhando que eu ia sair numa escola de samba. Eu nunca tive essa possibilidade. Aqui eu tinha parentes e amigos. Eu vim para cá para morar num pensionato e fiz faculdade de filosofia na USP, depois eu mudei para a faculdade de psicologia. Eu vim para estudar. Eu não sabia bem o que eu queria, só que queria morar em uma cidade grande. Eu ressentia muito da falta de sol e de água. Não fui feliz em São Paulo de cara. Foi difícil, mas fui me adaptando e ficando paulista.

Hoje eu me sinto completamente integrada nesta cidade e não consigo me ver morando em outro lugar. Eu sinto saudade daqui. É uma cidade interessante, que me estimula. Eu gosto da feiura. Eu vejo uma beleza nesta feiura. Muito sol, amor e barquinho me enjoam. Não aguento. Você tem esta coisa humana da cidade. Eu gosto de tristeza. Cada vez eu odeio mais a obrigação de alegria, felicidade e de sorrisos muito fáceis e soltos. Este convívio com esta esquisitice da cidade me faz bem.

O que você mais admira nesta cidade?

A quantidade infinita de possibilidades. É uma cidade que te dá uma liberdade de escolha muito grande. Esta mistura de culturas. Tem pessoas do mundo inteiro. A cidade não tem uma cara, tem diversas. Você tem muitas possibilidades, muitos caminhos.

A peça é dirigida por Isabel Teixeira, a Maria Bruaca de Pantanal. Como surgiu este convite para ela dirigir e o que tem achado do sucesso da atriz?

Eu que convidei. A Bel é minha parceira, a pessoa que eu mais gosto de trabalhar. Eu sinto que a gente fala a mesma língua. A gente trabalhou juntas como atriz em um espetáculo e ali a gente já selou uma parceria porque foi tão fácil e produtivo nosso contato. Trabalhar com ela foi tão estimulante. Ela é uma grande artista. É muito enriquecedor o contato com ela.  Eu tô muito feliz que ela está arrasando na televisão.

O que você tem achado da retomada cultural após tanto tempo parado por conta da pandemia?

Eu tô achando uma alegria. Tá se criando uma nova efervescência com espetáculos, com pessoas tendo ideias. Eu tô feliz com o que está acontecendo.

Quais seus próximos projetos?

Eu tenho convites para fazer novamente uma peça que fiz com a Bel. Se chama ‘Desarticulações’ (sobre a perda gradativa de memória de uma mulher acometida com Alzheimer) e é de uma argentina chamada Sylvia Molloy que mora em Nova York. Nós fizemos no MIS em 2013. Foi muito bacana, mas foi muito curto. A gente fez lindamente, mas deixou uma saudade. Eu tenho vontade de retomar este espetáculo.

Serviço:

São Paulo

Teatro Itália Bandeirantes – Avenida Ipiranga, 344 (Edifício Itália), República

Até 28/8

Sex e sáb às 20h e dom às 19h.

Ingressos: R$ 90,00 pelo site teatroitalia.byinti.com.

Foto: Roberto Setton/ Divulgação

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